Afinal, o que os bebês fazem no berçário?


A escola de Educação Infantil, ao longo dos tempos, vem representando diversas funções para a sociedade, especialmente, para os adultos e crianças que fazem dessa instituição um espaço de cuidado, de socialização, de aprendizagem e de educação. Isso tudo resulta do fato de que, nas últimas décadas, os diversos segmentos da sociedade têm voltado suas atenções para as necessidades das crianças em contextos de vida coletiva. No último século, a vida das crianças foi afetada pela entrada da mulher ao mundo do trabalho, o que provocou mudanças na sociedade. Nesse contexto, as tarefas de educar e cuidar, que antes eram da esfera privada, passaram para o setor público. A partir da década de 70, a educação das crianças com idades entre 0 e 6 anos ganha um novo status nos campos das políticas públicas e das teorias educacionais. Isto promoveu avanços também no que diz respeito à oferta de creches e pré-escolas, dando novas dimensões às lutas e militâncias feitas pelas mulheres, sindicalistas e feministas da época. No princípio, a educação de crianças em espaços coletivos se tratava de um direito da família, opção dos citando a compreensão que tenho sobre este tópico, haja vista que é o lugar que elejo para a pesquisa. Da Educação Infantil, situo a Pedagogia, em especial, as Pedagogias para a Pequena Infância, como campo de conhecimento deste estudo. Um cenário de fundo que constitui, localiza a pesquisa e que se situa em um dos objetivos: de sinalizar elementos para a constituição do estatuto das Pedagogias para a Pequena Infância. Ao formar a referida composição, combinei ainda os autores que, como interlocução teórica, sustentam e fundamentam as histórias que, aqui, são compartilhadas e, disso tudo, as perguntas - guias da pesquisa. 

Nesse sentido, foi que compreendi e constitui a pesquisa, a qual passa pela composição de um campo, que não estava dado, mas que foi construído na medida em que os elementos desse estudo foram sendo combinados e problematizados. Assim, apresento os elementos que compõem o meu campo problemático de pesquisa. A Constituição Federal de 1988, configurou-se como direito da criança, dever do Estado e da família, a educação infantil. Motivados por isso, sociólogos, psicólogos, antropólogos, educadores e diversos estudiosos voltaram suas questões para reflexões acerca da vida coletiva das crianças, perguntando-se como estas vivem longe das famílias, de que forma se relacionam, aprendem, e também sobre como as escolas de Educação Infantil devem ser organizadas. A experiência de Lóczy, que inspirou e inspira até hoje instituições interessadas na educação e cuidado de crianças pequenas, iniciou com os estudos de Emmi Pikler, que, hoje, recebe o nome Instituto Pikler, mas ainda é muito conhecido como Lóczy, nome da rua onde fica situado, em Budapeste, na Hungria. Convém dizer que Lóczy é um orfanato que abriga crianças – do recém-nascido até, aproximadamente, o terceiro ano de vida – tanto em caráter temporário como aquelas que os pais perderam a guarda. Formada em medicina e licenciada em pediatria em Viena na década de vinte, Pikler postulou conceitos importantes sobre o desenvolvimento motor de bebês, mas, associando-os a aspectos sociais, afetivos e cognitivos, anunciados desde aquela época, ainda que se desconhecesse sobre o termo “psicossomático”. Assim, “no modo de pensar e agir de Emmi Pikler, integravam-se indissociada e naturalmente desde o primeiro momento, a saúde somática e psíquica, a noção de interação do indivíduo com o seu meio”.


FOCHI, Paulo. Afinal, o que os bebês fazem no berçário?: comunicação, autonomia e saber-fazer de bebês em um contexto de vida coletiva. Porto Alegre: Penso, 2015.

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