Junto com o nascimento dos filhos, nasce uma máquina de preocupação, nós pais e mães. Nos preocupamos se estão com saúde, se já comeram, se estão com frio, se estão aprendendo na escola, se tem amigos, se os amigos são bons, se vão ter uma profissão, se terão sucesso, se vão namorar, casar, ter filhos...aí, aí, aí... E claro, se estão felizes!
Embora, a gente tenta, cá entre nós, não é tão fácil assim fazer alguém feliz.
Antes de mais nada, é preciso ter em mente que uma criança feliz não é aquela que não chora, não se frustra ou não se irrita, mas aquela que aprimora, constantemente, a compreensão sobre as próprias emoções e consegue colocar significado em seus sentimentos, mesmo os que não sejam de pura alegria.
A habilidade de reconhecer os próprios sentimentos, compreender os dos outros e saber lidar com eles é o que chamamos de inteligência emocional (QE) – e ela é tão importante quanto o quociente de inteligência (QI), porque confere a serenidade e o discernimento necessários para que as funções cognitivas trabalhem plenamente. Ou seja, de nada adianta seu filho ser um gênio se ele não souber lidar com as críticas, por exemplo, ficar bravo, irritado e triste com o que não deu certo.
Para que possamos enfrentar o desafio de criar filhos emocionalmente saudáveis é importante que também estejamos emocionalmente saudáveis. De nada adianta falar com ele sobre autoestima, por exemplo, se eu ficar o tempo todo colocando-me defeitos. Reflita!
Sabemos que felicidade plena, não existe, o que existe são momentos felizes. Mas o equilíbrio emocional é extremamente necessário para lidar com os problemas e adversidades da vida.
Para ajudar nossos filhos a alcançar um equilíbrio emocional, seguem algumas dicas:
- Vínculos afetivos e efetivos:
Os laços familiares exigem empenho e manutenção para se firmarem. Isso significa estar ao lado, acompanhar (e não apenas cobrar), achar o equilíbrio entre intenso e sereno. Mesmo ao mais ocupado dos pais, não pode faltar o momento de conversar, orientar, pegar na mão, olhar nos olhos e entender as angústias. Isso vai contribuir para que o seu filho se sinta seguro e saber que pode contar com você.
- Autoestima:
Dizer, o tempo todo, que a criança é a mais linda do mundo não vale muito. Autoestima de verdade tem mais a ver com permitir que ela se sinta segura, arrisque-se mais e confie no próprio potencial, sem depender das opiniões alheias. O elogio é válido desde que seja pertinente. “Em vez de elogiar a capacidade, parabenize o esforço. Aí, sim, a criança será motivada a sempre superar a si mesma.” Isso quer dizer que frases como “Parabéns, você conseguiu terminar a lição!” ou “Parabéns, pelo seu esforço, continue assim!” são muito melhores do que “Fiquei feliz por você ter tirado 10 na prova!”
- Resiliência:
Está relacionada à capacidade de lidar com problemas e superar obstáculos. Saber lidar com os problemas do dia a dia com otimismo, protegem as crianças contra a depressão, aumentam a satisfação com a vida e melhoram a aprendizagem. O exercício dessa habilidade depende da interação com o outro, ao fazer com que a criança entenda que nem sempre tudo vai acontecer como deseja. Às vezes, é preciso esperar, outras vezes, é necessário ceder ou recuar, mas que o importante é não desistir dos objetivos. Frustrações vão ocorrer e são inevitáveis, mas é preciso saber lidar com elas com perspectivas positivas.
- Frustrações:
É triste, eu sei... Ás vezes, sofremos mais que eles, mas uma boa dose delas dá ao seu filho algo importante: choque de realidade. Não ganhar um brinquedo ou perder um jogo podem fazê-lo sofrer, mas são ótimos ensaios para as situações que precisará enfrentar mais para a frente, quando se deparar com um “não”. Saiba que ele vai se decepcionar e chorar. Mas também vai aprender. Além de dar a negativa, você precisa fazer com que ele entenda o porquê. Assim, vai adquirir uma consciência crítica e a proibição se traduzirá em aprendizado. E se vier a birra, ofereça apoio e afeto. Verbalize que ele está chorando porque sente raiva ou está decepcionado, mas que tem de lidar com isso. Lembrando sempre, que um não bem fundamentado é uma vacina contra um mal avassalador que é o sofrimento por querer algo que nem sabe-se o que é, causando instabilidade emocional e transtornos mentais.
- Brincadeira (muita!):
Toda angústia ou receio que incomoda seu filho e ele não sabe expressar pode ser manifestado de forma espontânea no ato de brincar ou jogar. É pela diversão, que se desenvolve o senso de competência, de pertencimento, o controle da agressividade e o bem-estar. O brincar e o jogar são formas de expressão que possibilitam elaborar situações do cotidiano, externando sentimentos. Quando uma criança brinca de casinha, por exemplo, e se põe no lugar da mãe, tem a chance de refletir sobre as ações e características do imitado. Ao interagir com outras crianças, aprende a respeitar a opinião do outro, descobre que existem regras e que nem sempre tudo será do jeito dela. Estabelecem limites na interação social. Brincar e jogar desenvolvem esquemas mentais que favorecem a intelectualidade, a cognição, a linguística, a psicomotricidade e o equilíbrio emocional. As brincadeiras e os jogos ajudam e muito na compreensão de mundo propiciando o autoconhecimento. Além disso, as atividades físicas e brincadeiras ao ar livre liberam o hormônio essencial para auxiliar no tratamento da tristeza e depressão: a endorfina, popularmente conhecida como “hormônio da alegria”, por promover sensação de bem-estar, euforia e alívio das dores. As crianças e adolescentes que brincam em vídeo games ou computadores, por exemplo, tem um desenvolvimento significante em diversos aspectos como: habilidades motoras, raciocínio lógico e integração social, no entanto é necessário estabelecer alguns critérios como tempo de uso e a classificação etária para alguns jogos.
- Comunicação:
Nossa comunicação é chave para tudo, é preciso ter uma comunicação clara e objetiva, para ser assertiva. Não adianta "enrolarmos" pra dar um recado, contar uma história, pedir algo etc, se não soubermos de que forma comunicar isso. A gente fala A e o outro entende Z, muitas vezes não é culpa dele, mas sim nossa, por não termos clareza na comunicação.
Por último, mas não menos importante, seja você mesmo, mostre para o seu filho que também tem dificuldades, que chorar é bom, que sorrir é melhor ainda. Não há e nunca haverá um manual de como ser melhores pais ou mães, pois a gente vai aprendendo mesmo é com a vida. E felicidade é um estado mental de consciência plenamente satisfeita, satisfação, contentamento e bem-estar.
Dra. Regiane Souza Neves
- Doutora e mestra em Psicanálise;
- Especialista em Neuropsicopedagogia, Educaçao Especial e Inclusiva;
- Especialista em Neuropsicologia;
- Especialista em Psicomotricidade;
- Especialista em Ensino Superior;
- Especialista em Gestão Escolar, Coordenação Pedagógica e Legislação Educacional;
- Graduada em Psicopedagogia;
- Habilitação em ABA Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo;
- Habilitação em Orientação Vocacional;
- Palestrante e docente em programas de pós-graduação;
- Supervisora Psicopedagógica e Neuropsicopedagogica;
- Autora de 11 livros na área de educação e psicopedagogia;
- Atua há 25 anos na educação e 10 anos no atendimento psicoterapêutico;
- Contemplada com 27 prêmios e homenagens nacionais e internacionais.
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